Esta é uma parte de um artigo retirado do DN de 04/01/2006
«60% dos estudantes universitários admitem copiar nos exames.
Estudo da Faculdade de Economia do Porto mostra que Alentejo recorre mais à cábula
(Elsa Costa e Silva)
Copiam mais os alunos do interior e Alentejo, os finalistas e com notas inferiores a 13. O facto de se estar deslocado não tem influência Ser apanhado a copiar não acarreta "sanções sérias" fora da sala de exame e as penalizações não têm efeitos eficientes, defendem as investigadoras
Mais de 60% dos estudantes do ensino superior admitem copiar nos exames. Um inquérito em larga escala, aplicado em dez universidades públicas portuguesas, demonstra ainda que existem diferenças regionais acentuadas os alunos do Alentejo são os que mais dizem cometer fraudes académicas, com 75% a admitirem que copiam algumas vezes, contra os dos Açores, com metade dos inquiridos a afirmar que nunca usa cábulas nas provas.
Esta pesquisa - a primeira de grande dimensão a estudar a realidade de Portugal - foi realizado por Fátima Rocha e Aurora Teixeira, duas investigadoras da Faculdade de Economia do Porto. Perto de 2700 alunos, dos cursos de Gestão e Economia de todo o País, foram inquiridos entre Março e Dezembro de 2005. Os estudantes foram avaliados de acordo com a residência permanente e não por universidades. Este dado foi também tratado pelas investigadoras, mas apenas facultado individualmente a cada instituição.
Fátima Rocha - cuja tese de doutoramento em curso tem por base este trabalho - explica que o objectivo é "analisar a magnitude da fraude académica e as determinantes deste fenómeno, analisando especificamente a questão regional". Existe ainda uma segunda fase, onde serão comparados os dados portugueses com elementos recolhidos em outros países europeus, onde as investigadoras aplicaram também o inquérito.
'Apanhados'. Outro dado que revela a amplitude que tem nas universidades portuguesas a prática de copiar é o facto de 90% dos estudantes afirmarem que existe a probabilidade de ver outros copiar. E ainda mais de metade garantem que já viram algum colega a ser apanhado por um professor a copiar durante um exame. Curiosamente, apenas 5% dos alunos admitiram que foram surpreendidos a cometer fraudes durante a realização de provas.
Para além dos Açores, também o Algarve surge como uma região onde os estudantes parecem ter menor tendência para a fraude académica. Mais de 45% dos alunos provenientes do Sul do País dizem nunca copiar e os que afirmam fazê-lo sempre são inferiores a 1%. Os estudantes do arquipélago têm a posição mais díspar são os que, por um lado, mais dizem nunca copiar (50%), mas são também, curiosamente, os que mais assumem fazê--lo sempre (12,5% contra a média nacional de 2,5%). Parecem assim existir "factores intrínsecos às regiões de onde são originários os alunos para explicar a propensão para copiar e seria interessante estudar mais para perceber quais são", explica Aurora Teixeira.
A tendência para copiar é maior nos alunos com médias entre os 10 e 12 valores 64,8% admitem copiar. A percentagem de cábulas desce para quase metade nos estudantes com médias superiores a 16 valores. Um dado curioso é que o facto de um aluno estar, ou não, deslocado - ou seja, fora do seu local de residência habitual - não o torna mais susceptível à cópia.
Pressão. Para além das diferenças regionais, as investigadoras assinalam que existe igualmente discrepância entre os anos do curso. Ou seja, são os "finalistas" que tendem a copiar mais. Quanto mais se aproxima o fim da licenciatura, mais cresce a tendência para usar meios fraudulentos para passar nos exames. "Penso que existirá nessa altura uma grande pressão para a média, porque eles sabem que a primeira entrada no mercado de trabalho está condicionada pela nota e só é chamado para entrevistas quem tem mais de 13 valores", adianta Aurora Teixeira.
Mas isso não significa que são os mais velhos os mais "cábulas". Pelo contrário, a partir dos 26 anos, os estudantes têm menor tendência para o "copianço". Serão talvez, adiantam as investigadoras, alunos já no mercado de trabalho que regressam para concluir uma licenciatura e, portanto, "com uma atitude diferente".
Outro dado interessante revelado pela investigação dá conta de que, para mais de metade dos alunos, a prática do "copianço" não é realmente um problema. Só 11,3% consideram que o tema é "sério" e cerca de um terço assinala que merece "alguma atenção". As investigadoras defendem que "ser apanhado a copiar não acarreta sanções sérias, fora da sala de exame" e que as penalizações "não têm um efeito eficiente". O exame é anulado e o aluno chumba, "o que aconteceria na mesma, caso não tivesse copiado, porque não tinha estudado", explicam. O estudo demonstra ainda que existe um "ambiente favorável" à cópia e que isso favorece a prática entre os alunos.»
O que dizer depois disto? Que somos um país de cábulas? É óbvio que me choca, cada vez mais, esta realidade que considero completamente absurda. Principalmente no meio universitário. Sim, admito que durante o meu percurso académico observei várias situações aqui relatadas. E, talvez, devido à minha noção de integridade e de busca do saber me orgulhe por dizer: Não, não copiei. E sinto-me realizada também por isso. Não só pelo facto de (também como professora) achar totalmente supérfulo um papel que nos diz tiveste 13 ou 17 valores. Mas também, porque todos devemos ter noção daquilo que procuramos. O ensino é muito mais do que isto. Se não querem aprender, então de que serve frequentar a faculdade? Para enganar o sistema? Para dizer "tenho um papel que me diz que tenho um curso?" De que serve esse papel se não detivermos o saber que, supostamente, ele prova?
Precisamos de pessoas com garra e coragem, verdadeiras. Que demonstrem o que querem e que não se enganem a si próprias (nem aos outros).
Por isso, que tal estudar em vez de copiar? Será que querem copiar também as vidas dos outros? Ou preferem criar a vossa?
«60% dos estudantes universitários admitem copiar nos exames.
Estudo da Faculdade de Economia do Porto mostra que Alentejo recorre mais à cábula
(Elsa Costa e Silva)
Copiam mais os alunos do interior e Alentejo, os finalistas e com notas inferiores a 13. O facto de se estar deslocado não tem influência Ser apanhado a copiar não acarreta "sanções sérias" fora da sala de exame e as penalizações não têm efeitos eficientes, defendem as investigadoras
Mais de 60% dos estudantes do ensino superior admitem copiar nos exames. Um inquérito em larga escala, aplicado em dez universidades públicas portuguesas, demonstra ainda que existem diferenças regionais acentuadas os alunos do Alentejo são os que mais dizem cometer fraudes académicas, com 75% a admitirem que copiam algumas vezes, contra os dos Açores, com metade dos inquiridos a afirmar que nunca usa cábulas nas provas.
Esta pesquisa - a primeira de grande dimensão a estudar a realidade de Portugal - foi realizado por Fátima Rocha e Aurora Teixeira, duas investigadoras da Faculdade de Economia do Porto. Perto de 2700 alunos, dos cursos de Gestão e Economia de todo o País, foram inquiridos entre Março e Dezembro de 2005. Os estudantes foram avaliados de acordo com a residência permanente e não por universidades. Este dado foi também tratado pelas investigadoras, mas apenas facultado individualmente a cada instituição.
Fátima Rocha - cuja tese de doutoramento em curso tem por base este trabalho - explica que o objectivo é "analisar a magnitude da fraude académica e as determinantes deste fenómeno, analisando especificamente a questão regional". Existe ainda uma segunda fase, onde serão comparados os dados portugueses com elementos recolhidos em outros países europeus, onde as investigadoras aplicaram também o inquérito.
'Apanhados'. Outro dado que revela a amplitude que tem nas universidades portuguesas a prática de copiar é o facto de 90% dos estudantes afirmarem que existe a probabilidade de ver outros copiar. E ainda mais de metade garantem que já viram algum colega a ser apanhado por um professor a copiar durante um exame. Curiosamente, apenas 5% dos alunos admitiram que foram surpreendidos a cometer fraudes durante a realização de provas.
Para além dos Açores, também o Algarve surge como uma região onde os estudantes parecem ter menor tendência para a fraude académica. Mais de 45% dos alunos provenientes do Sul do País dizem nunca copiar e os que afirmam fazê-lo sempre são inferiores a 1%. Os estudantes do arquipélago têm a posição mais díspar são os que, por um lado, mais dizem nunca copiar (50%), mas são também, curiosamente, os que mais assumem fazê--lo sempre (12,5% contra a média nacional de 2,5%). Parecem assim existir "factores intrínsecos às regiões de onde são originários os alunos para explicar a propensão para copiar e seria interessante estudar mais para perceber quais são", explica Aurora Teixeira.
A tendência para copiar é maior nos alunos com médias entre os 10 e 12 valores 64,8% admitem copiar. A percentagem de cábulas desce para quase metade nos estudantes com médias superiores a 16 valores. Um dado curioso é que o facto de um aluno estar, ou não, deslocado - ou seja, fora do seu local de residência habitual - não o torna mais susceptível à cópia.
Pressão. Para além das diferenças regionais, as investigadoras assinalam que existe igualmente discrepância entre os anos do curso. Ou seja, são os "finalistas" que tendem a copiar mais. Quanto mais se aproxima o fim da licenciatura, mais cresce a tendência para usar meios fraudulentos para passar nos exames. "Penso que existirá nessa altura uma grande pressão para a média, porque eles sabem que a primeira entrada no mercado de trabalho está condicionada pela nota e só é chamado para entrevistas quem tem mais de 13 valores", adianta Aurora Teixeira.
Mas isso não significa que são os mais velhos os mais "cábulas". Pelo contrário, a partir dos 26 anos, os estudantes têm menor tendência para o "copianço". Serão talvez, adiantam as investigadoras, alunos já no mercado de trabalho que regressam para concluir uma licenciatura e, portanto, "com uma atitude diferente".
Outro dado interessante revelado pela investigação dá conta de que, para mais de metade dos alunos, a prática do "copianço" não é realmente um problema. Só 11,3% consideram que o tema é "sério" e cerca de um terço assinala que merece "alguma atenção". As investigadoras defendem que "ser apanhado a copiar não acarreta sanções sérias, fora da sala de exame" e que as penalizações "não têm um efeito eficiente". O exame é anulado e o aluno chumba, "o que aconteceria na mesma, caso não tivesse copiado, porque não tinha estudado", explicam. O estudo demonstra ainda que existe um "ambiente favorável" à cópia e que isso favorece a prática entre os alunos.»
O que dizer depois disto? Que somos um país de cábulas? É óbvio que me choca, cada vez mais, esta realidade que considero completamente absurda. Principalmente no meio universitário. Sim, admito que durante o meu percurso académico observei várias situações aqui relatadas. E, talvez, devido à minha noção de integridade e de busca do saber me orgulhe por dizer: Não, não copiei. E sinto-me realizada também por isso. Não só pelo facto de (também como professora) achar totalmente supérfulo um papel que nos diz tiveste 13 ou 17 valores. Mas também, porque todos devemos ter noção daquilo que procuramos. O ensino é muito mais do que isto. Se não querem aprender, então de que serve frequentar a faculdade? Para enganar o sistema? Para dizer "tenho um papel que me diz que tenho um curso?" De que serve esse papel se não detivermos o saber que, supostamente, ele prova?
Precisamos de pessoas com garra e coragem, verdadeiras. Que demonstrem o que querem e que não se enganem a si próprias (nem aos outros).
Por isso, que tal estudar em vez de copiar? Será que querem copiar também as vidas dos outros? Ou preferem criar a vossa?